Em Quatro Irmãos, onde moraram por dez anos, acumularam muitos bens.
O filho mais velho, Vergílio, com 18 anos, o Vitalino com 16 e mais o “negro” Joaquim Antunes de 18 anos, ficaram para trazer o resto da mudança.
Joaquim, apesar de jovem, era experiente em viagens, tocava violão, cantava, falava alemão e italiano (= dialeto vêneto).
Vergílio, de boa memória, lembra dos mínimos detalhes.
Eram 360 quilômetros de distância. Seguiram com carroça de bois, 2 cavalos para montar e 15 cabeças de gado. O início da viagem foi muito difícil, pois o gado não queria andar, fugia da estrada e tentava voltar. Até parece que sabiam que a viagem seria longa.
A carroça estava cheia de alimento para o gado, sobretudo milho e bastante gêneros alimentícios, necessários para a nova morada. Traziam um tonel de 40 kg de banha e carne cozida, à moda antiga. Havia queijo, salame, pão, talharim, arroz, feijão, frangos cozidos na farofa. Traziam uma grade de ferro com quatro pés e, embaixo dela faziam fogo para preparar as comidas durante a viagem.
A mudança seguia pelas estradas e picadas, informando-se do rumo a seguir. Ao meio dia paravam, junto a um riacho para descansar o gado e almoçar. A viagem durou 14 dias. Ao anoitecer paravam próximo a algum morador, ao qual pediam para guardar o gado na mangueira. Em uma das paradas, as filhas do casal disseram: “Ah mamma”, ghe don posto, i ze taliani”,( mãe vamos dar lugar, esses são italianos). O simpático negrinho, que entendia o “italiano” diz ao Vergílio e Vitalino, “Valtri taliani ande entro casa, mi que som negro, vo al paiol”,( vocês que são italianos entrem em casa, eu que sou negro vou para o paiol).
Pelo fim da viagem, ao chegar numa casa pediram se tinham pão para vender. Disseram que não, mas que se não saíssem muito cedo iriam preparar.
Estando perto de Pinheiro Preto, ao se aproximar de uma casa, Vergílio viu que as pessoas tinham fisionomia semelhante aos vizinhos em Quatro Irmãos. Eram irmãos de João Batiston , proprietários do Hotel Itália em Erechim, cujo irmão havia comprado a terra do Fioravante em Quatro Irmãos. A venda foi feita por 13 contos e quinhentos mil réis. Fioravante vendeu porque, vendo a família aumentar, achava que seria pouca terra para tantos. Eram apenas 20 alqueires.
Em Caçador comprou 90 alqueires, por 45 contos, tendo dado trinta de entrada, em dinheiro.
Pedro Bortolon foi o corretor que vendeu a terra. Havia 4 serrarias com direito de tirar todos os pinheiros da região. As serrarias de João Bortolon, de Boni, viúva Soletti, e Hilário Bau. As duas últimas estavam na terra comprada.
A propriedade comprada incluía uma casa velha de 3 cômodos e cozinha externa. Havia também um moinho para milho. Uma segunda casa velha, a ser liberada, com 5 cômodos. Um galpão especial com 35 caixas de abelhas, com todo o equipamento para trabalhar com mel e abelhas. Não se sabe ao certo como, mas o fato é que um incêndio destruiu todas as abelhas pouco antes da família chegar.
Na nova morada, a Santina de 14 anos ficou responsável pelo moinho e tinha como companheiro o Augusto. O moinho de milho atendia a toda vizinhança
Passadas algumas semanas a família mudou para a outra casa, distante cerca de 800m, em melhores condições. Foram construídas sala e cozinha ao lado.
Junto às duas moradas havia bastante árvores frutíferas. Muitas foram transplantadas para junto da nova morada. As moradas velhas pertenciam ao Korokoski que mudou para Curitiba.